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domingo, 31 de março de 2013

IDESP e sua crucificação moral




 No dia 28 de março (última quinta-feira) o governo paulista divulgou a bonificação dada aos docentes através do Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (IDESP) que é um indicador de qualidade das séries iniciais (1ª a 4ª séries) e finais (5ª a 8ª séries) do Ensino Fundamental e do Ensino Médio das escolas públicas do estado de São Paulo, calculado a partir de dois eixos complementares: o desempenho dos alunos nos exames do SARESP e o fluxo escolar.
Pois bem, por volta do meio-dia desse mesmo dia, olhei meu extrato bancário para conferir minha bonificação. Foram exatos R$ 74,19. Observando esse valor impresso no extrato bancário, vieram a minha lembrança todas ás noites mal dormidas, todas às noites em claro pensando e repensando minha prática pedagógica, todas as leituras feitas para minha qualificação profissional, todas às horas escolares doadas em favor da busca de uma aprendizagem significativa para os alunos, todos os cursos e capacitações obrigatórias de que participei, enfim, toda à luta por uma educação de qualidade para meus alunos. 
Lembrei-me também de meus companheiros docentes e gestores de jornada? O que dizer deles? Quantos gestores e professores presenciei – principalmente os de Língua Portuguesa e Matemática - concentrados e muitas vezes obcecados para que a escola tivesse um aprendizado por excelência e assim como eu, obtiveram uma ridícula bonificação.
Continuando minha divagação com o extrato em mãos, imaginei-me em uma sala, em uma ocasião qualquer, dizendo com os punhos cerrados ao senhor Herman Jacobus Cornelis Voorwald, ilustríssimo secretário da educação do estado de São Paulo e a todos os gestores que estivessem presentes o seguinte: Unespiano como você, sua meritocracia existente na educação é esdrúxula e criminosa. Criminosa porque puni e maltrata moralmente, milhares de docentes pelo Estado afora, que batalham por uma educação de qualidade muito além de suas capacidades tanto físicas como emocionais. Senhores gestores educacionais estaduais presentes, professores por excelência já são heróis nesse Estado que apresenta um sistema educacional caduco, arcaico, cujas raízes remontam a segunda metade do século XVIII, nós não precisamos de incentivos financeiros para melhor trabalharmos. Isso já está em nossa veia, em nosso coração, pois somos professores - ou todos vocês acreditam que escolhemos essa profissão para ficarmos milionários? (ou como dizia Paulo Freire: ninguém escolhe ser professor, é a profissão que nos escolhe). Na verdade, o que precisamos são de inúmeras condições adequadas que a educação paulista não nos oferece.
Senhores gestores educacionais estaduais presentes, como vocês têm a arrogância de avaliarem todo o trabalho de um ano letivo escolar inteiro através de uma “prova” que nem contempla todas as disciplinas ministradas em uma escola?    
Por fim, ao final de toda minha reflexão sobre esse encontro imaginário, um vazio tomou conta de mim. Picotei o extrato bancário com o pífio valor contido nele, dei as costas e fui embora do banco, sentindo-me e pensando como Jesus crucificado nessa semana de Páscoa: “Pai- perdoa-lhes, porque realmente eles não sabem o que fazem”...

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